Um vídeo mostrando um rebelde sírioarrancando o pulmão de um soldado e fingindo morder o órgão suscitou nesta terça-feira (14) uma onda de condenações. O homem que aparece no vídeo explicou hoje seu ato como uma vingança contra os abusos do regime do presidente Bashar al Assad, contra o qual as tropas rebeldes estão lutando há mais de dois anos.
Consultado via Skype pela revista americana Time, o rebelde, identificado como Khalid al Hamad, afirma que fez isso depois de ter visto no telefone celular do soldado morto vídeos mostrando o oficial humilhando uma mulher nua e seus dois filhos.
O insurgente diz em seguida ter um outro vídeo mostrando o mesmo homem prestes a cometer outras atrocidades, que são cada vez mais frequentes na guerra entre as tropas do regime de Assad e a rebelião.
"Cortei um 'shabiha' (miliciano pró-regime) com uma serra. Utilizamos a serra para cortar árvores. Eu o cortei em pedaços pequenos e grandes", disse ele nesta entrevista divulgada pela Time.
Nas imagens que provocaram indignação, até na oposição síria, ele arranca, aparentemente, o pulmão e partes do coração do soldado antes de dizer: "Juramos diante de Deus que comeremos seus corações e seus fígados, soldados de Bashar, o cão".
Na época da gravação, no entanto, o soldado acreditava estar comendo o fígado do soldado. Mas, segundo um cirurgião consultado pela revista Time, trata-se mesmo de um pulmão.
A revista afirma ter tido acesso à gravação no mês passado, mas resolveu não publicá-la com receio de que fosse falsa. O vídeo acabou sendo publicado no dia 12 de maio em um site pró-regime Assad, ganhando em seguida o Facebook e o Youtube.
Segundo a Human Rights Watch (HRW), organização de direitos humanos, o vídeo mostra "um comandante da brigada rebelde Omar al Farouq" do Exército Livre da Síria (ELS), principal integrante da oposição armada.
"Oh heróis de Baba Amr, massacrem os alauítas e cortem seus corações para comê-los", acrescenta no vídeo este sunita, como a grande maioria dos insurgentes, referindo-se à minoria ao qual pertence Assad e os líderes do governo sírio.
Ele reafirma à Time o que havia afirmado no vídeo: "Vamos massacrar todos".
"São eles que mataram nossos filhos em Baba Amr e estupraram nossas mulheres", acusa, fazendo referência a um bairro que se transformou em símbolo da cidade de Homs, tomada pelo Exército após uma sangrenta ofensiva.
— Não fomos nós que começamos, foram eles que começaram [a guerra].
"É olho por olho, dente por dente", afirma o homem, que tem como nome de guerra Abu Sakkar.
Nesta terça, o governo dos Estados Unidos manifestou sua perplexidade com o ocorrido.
"Estamos horrorizados com este vídeo e dissemos muito claramente que todas as partes em conflito deviam respeitar o direito humanitário internacional", reagiu o Departamento de Estado americano, indicando ter discutido esse ato com lideranças rebeldes.
Uma das lideranças afirmou que o rebelde acusado tinha sido expulso de sua unidade militar por este e outros abusos cometidos no passado.
Antes da publicação da entrevista, a Coalizão Nacional Opositora Síria denunciou "um ato horrível e desumano", ressaltando que "condena este ato, se ele for confirmado".
A coalizão ressaltou que atitudes como essa "contradizem os valores morais do povo sírio, assim com os valores e princípios do Exército Livre da Síria", prometendo que os culpados serão julgados.
Mas essas declarações não convenceram a HRW.
"Não basta que a oposição síria condene este tipo de comportamento ou atribua a culpa da violência ao governo", disse Nadim Houry, vice-diretor da HRW para o Oriente Médio.
Em Genebra, a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay, lembrou que "mutilar ou profanar cadáveres durante um conflito constitui um crime de guerra".
Ela pediu novamente que se recorra ao Tribunal Penal Internacional "para que processos judiciais possam ser abertos contra os supostos responsáveis por (...) crimes de guerra e contra a humanidade, seja por parte do governo ou da oposição".
Desde o início da revolta popular, em março de 2011, que se transformou em guerra civil, vídeos mostrando abusos das partes em conflito se multiplicaram, com regime e rebeldes trocando acusações.
Nesta terça à noite, o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) denunciou a execução a tiros em uma das praças da cidade de Raqqa, no leste do país, de três pessoas apresentadas como oficiais do Exército "condenados à morte" pelo grupo jihadista rebelde Al Nosra.
O conflito na Síria já deixou mais de 94 mil mortos, de acordo com essa ONG. Segundo as Nações Unidas, o número de mortos está em 80 mil.
fonte: r7.com
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